
Ludmilla é, há tempos, uma força incontornável na música popular brasileira. Artista multifacetada, maior cantora negra da América Latina, ela soma mais de 15 bilhões de streams e ocupa atualmente o 6º lugar entre as mulheres pretas mais ouvidas no mundo, ao lado de nomes como Beyoncé, Rihanna e Nicki Minaj. Agora, a cantora e compositora dá mais um passo ousado em sua trajetória com o lançamento de “Fragmentos”, seu sexto álbum de estúdio, que chega às plataformas digitais nesta quinta-feira (06).
“Fragmentos” é uma bem elaborada coleção de canções R&B que refletem a vida de Ludmilla, sua trajetória, amores, desafios e descobertas. Ao longo de 15 faixas, a cantora explora vocais poderosos em músicas pensadas para revelar a força e a expressividade de sua voz, misturando o Rhythm and Blues com elementos do funk carioca, samba, pagode, ijexá e outros estilos que são genuinamente nossos.
Ludmilla se dedicou a um processo de composição e produção intenso, que durou mais de um ano e meio, e incluiu períodos de criação no Brasil e nos Estados Unidos, onde gravou em estúdios emblemáticos como o Westlake Studios, escolhido por Michael Jackson para gravar “Thriller” (1983) e por Beyoncé para dar vida ao seu “Cowboy Carter” (2024). Por lá, a artista trabalhou com produtores renomados do universo R&B, incluindo London on the Track, Los Hendrix, Max Gousse e Poo Bear, nomes que já colaboraram com SZA, Justin Bieber, Drake, H.E.R, Summer Walker e Chris Brown.
Desde seu álbum de estreia, “Hoje” (2014), Ludmilla já incorporava elementos do Rhythm and Blues, gênero que acompanhou sua formação artística através de referências como Beyoncé, Aaliyah e Ciara. Sucessos como “Eu Não Quero Mais” e “Sintomas de Prazer”, assim como o Lud Session e o próprio Numanice, demonstram essa relação, mas em “Fragmentos” a artista abraça o estilo de forma plena.
Foi uma decisão corajosa apostar em um estilo ainda discreto no Brasil, mas Ludmilla assumiu o desafio de expandir as fronteiras desse gênero no país, da mesma forma que revolucionou o pagode ao criar o Numanice, hoje considerado um marco no showbiz nacional e inspiração para outros artistas. Cantando em português e inglês, ela constrói narrativas que transitam entre amor, desejo e poder pessoal, equilibrando fragilidade e força, com uma identidade sonora que é ao mesmo tempo sofisticada e autenticamente brasileira.
O álbum reflete a ideia de unir fragmentos de experiências que moldaram Ludmilla, tanto como mulher quanto como artista. A capa traduz essa narrativa. Cercada por troféus que representam conquistas e superações, ela segura uma máquina de solda da qual faíscas saem do peito, simbolizando o processo de “soldar” suas vivências e emoções em uma construção única.
“Esse álbum pode ser descrito como um registro de momentos diversos da minha vida e das pessoas que cruzaram meu caminho, onde cada faixa captura fragmentos de emoção, memória e identidade. É uma colcha de memórias, emoções e identidade, costurada de forma que cada música reflete um momento, uma sensação, uma conquista ou uma superação que me transformou.”, explica a cantora.
O compilado reúne participações especiais de destaque, reforçando a força feminina que permeia o trabalho, com Veigh sendo o único convidado masculino. Entre os nomes, estão Luísa Sonza, Duquesa, AJULIACOSTA, Victória Monét, Latto e Muni Long, que canta em português em “Tudo Igual”.
Essa nova era começou a ser revelada em junho com “Paraíso”, homenagem à Brunna Gonçalves e à filha do casal, Zuri. Em agosto, veio “Cam Girl”, parceria com Victória Monét, apresentada ao vivo no The Town em setembro. Os visuais exibidos nos telões do festival anteciparam a estética da desta nova fase, mostrando a construção do novo avatar de Ludmilla e um conceito inspirado em games.
“Criamos um universo próprio para o álbum, ambientando cada música em fases e desafios. Um grande embate entre vulnerabilidade e triunfo, onde ela encontra espaço para reviver, amar e recomeçar. Queríamos que o público enxergasse não só o brilho, mas também as dores que existem por trás dele”, explica Gabe Lima, diretor criativo.
A direção criativa do projeto mescla elementos do universo real e do imaginário, transformando cada visual em uma extensão da narrativa musical. Ludmilla participou ativamente de todo o processo, colaborando com Gabe Lima e a equipe do estúdio Puritana, idealizando sets e atmosferas que traduzem o poder de se reinventar, a superação e a pluralidade de sua trajetória. “Aprendi muito nesse processo. A Lud estava completamente entregue à proposta — criando junto, propondo ideias e vibrando a cada etapa. Construímos esse universo de forma literal, dentro de um galpão imenso, com sets longos e um ritmo desafiador. Todos estávamos na mesma sintonia, felizes com o que estávamos criando”, finaliza Gabe.
Faixa a Faixa:
“Whisky com Água de Choro” é um R&B midtempo que explora a tensão entre desejo e saudade, retratando um amor que persiste mesmo quando os sentimentos se perderam.
“Cheiro de Despedida” traz o impacto da separação, retratando a solidão e os rastros do amor que permanece no cotidiano, com Veigh complementando a narrativa de tentativa e resistência. A faixa traz um sample de Elza Soares, retirado de uma entrevista para Antônio Abujamra no programa Provocações, da TV Cultura, em 2010.
“Falta Eu” é uma faixa acústica que reflete sobre a ausência insubstituível em um relacionamento, a saudade e a certeza de que, apesar de outros, só aquele amor faz falta.
“A Pior Parte” aborda a dificuldade de lidar com a perda, pedindo pequenos gestos para amenizar a dor e revelando a solidão que segue o fim.
“Tudo Igual”, com Muni Long, evidencia o ciclo repetitivo de uma relação conturbada, em que os sentimentos se renovam sem que haja transformação real.
Combinando referências do R&B dos anos 2000 com uma produção moderna, “Paraíso” celebra o amor da artista pela esposa Brunna Gonçalves e a filha Zuri, nascida em maio deste ano.
“Coisa de Pele” traz elementos de pagode para narrar a irresistível atração física e a entrega ao desejo.
“Dopamina” enfatiza a intensidade do prazer e da paixão, explorando a química entre dois corpos e a dependência emocional que isso provoca.
“Cam Girl”, com Victoria Monet, transita entre R&B, trap e funk carioca, exaltando a sensualidade e o poder de escolha da protagonista sobre sua própria imagem.
“Telepatia” mostra a intimidade do casal, com desejo e sintonia explícita, onde a comunicação vai além das palavras.
“Calling Me” com Luisa Sonza explora a sedução e o magnetismo da atração, mesclando momentos de vulnerabilidade e entrega.
Energy, com Julia Costa e Duquesa, é explosiva e poderosa, exaltando autoestima, sucesso e a assertividade feminina.
“Bota” com Latto (bloqueada)
“Meu Defeito” revela o ciúme intenso e a possessividade típicos de uma taurina típica, mostrando como Ludmilla expressa as contradições e vulnerabilidades de um amor profundo.
“Textos Longos”, com estética sonora do Miami Bass, referência da virada do século e da cultura negra americana que influenciou o nascimento do funk brasileiro, destaca independência e autenticidade, reforçando a escolha de não se contentar com menos.