Notícias

Especialistas alertam: o jornalismo enfrenta desafios crescentes para conter a desinformação na era da IA

Com o objetivo de debater um tema crítico e de profunda relevância social — devido ao seu impacto direto nas decisões cotidianas da sociedade — mais de 50 jornalistas de todo o Brasil responderam ao webinar, que ocorreu de forma virtual. Com o título  “Combatendo a desinformação: o poder da checagem de fatos e o papel do jornalista em tempos de IA” , o webinar compõe a série ‘Intersecção de Valor’ – eventos que discutem temas de relevância para a comunicação, organizado pela agência de comunicação integrada LatAm Intersect. O evento trouxe ideias claras sobre como enfrentar a desinformação em um cenário em que mentiras se propagam rapidamente.

 

Com a presença de especialistas de peso como Ben-Hur Correia – repórter do Grupo Globo e pesquisador do Centro de Estratégia e Inovação da Coppead/UFRJ; Raphael Kapa – jornalista, professor, pesquisador, coordenador de Educação da Agência Lupa e colunista da Rádio Roquette Pinto; e Sérgio Lüdtke, jornalista e editor-chefe do Projeto Comprova, coalizão de 42 veículos de mídia contra a desinformação, o encontro não se limitou a mais um diagnóstico sobre o problema, mas foi uma conversa urgente sobre como o jornalismo pode usar uma tecnologia para recuperar terreno frente à manipulação sistemática da opinião pública. 

 

“Quisemos criar um espaço onde jornalismo e tecnologia se encontram por meio do pensamento crítico e da colaboração. A verificação de fatos nunca foi tão necessária, e, ao mesmo tempo, tão complexa. Hoje, não se trata apenas de verificar fatos, mas de compreender como em tempos de IA a tecnologia pode ser tanto uma aliada quanto uma ameaça”, explicou Claudia Daré, cofundadora e diretora do LatAm Intersect, que também intermediou o debate.

 

Para a realização do webinar, que também já aconteceu para jornalistas da América Latina hispânica, a agência transferiu uma pesquisa nos países onde tem operações, para medir o uso de verificação de fatos e o nível de preparação dos jornalistas da região para lidar com o problema. Ao entrevistar mais de 200 profissionais em 10 países da América Latina, descobriu-se que a maioria tinha interesse em se aprofundar sobre o tema. Pouco mais da metade, 54,2% afirmaram não contar com protocolos ou ferramentas específicas de verificação de fatos em seus veículos e apenas 11,9% afirmaram estar em fase de implementação — o que reforçau a urgência de criar esse espaço.

 

“O que me impressionou nessa pesquisa foi o fato de que muitos jornalistas ainda não utilizam a checagem de fatos em seu dia a dia, uma das primeiras e principais questões da faculdade. Se hoje vivemos essa nova realidade do jornalismo, precisamos nos reinventar como profissionais e não dar chance para a desinformação se tornar cada vez maior ao dar espaço ao jornalismo declaratório, onde uma parte do discurso é retirada e incluída num contexto malicioso e mentiroso”, disse Raphael Kapa.

 

Uma pesquisa da LatAm Intersect revela que, no Brasil, 62,5% dos jornalistas ainda não utilizam ferramentas tecnológicas para verificar informações, e 7,7% recorrem ao ChatGPT com essa finalidade. Quando questionados sobre quais são suas principais fontes para verificar informações, 31,3% afirmaram que fazem checagem por meio de sites de notícias confiáveis e as fontes que geraram os dados iniciais. 12,5% revelaram acessar sites especializados para apurar se as informações são confiáveis.

 

“Existem diversas ferramentas que surgiram para a checagem de informações, que podem auxiliar em nosso cotidiano. No entanto, reforço que não dá para chamar a IA de colegas, pois ela é um assistente. Gostaria que as pessoas voltassem a tratá-la dessa maneira, pois ela pode ser uma motosserra: deve ser usada com cuidado e com as duas mãos para evitar que algo ruim aconteça”, alertou Sérgio Lüdtke. 

 

Na América Latina, ao levar em consideração jornalistas de todos os países que participaram do estudo – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, México e Perú – foi constatado que 33,3% geralmente verificam informações em sites especializados e 28,9% por meio de suas fontes principais.

 

No entanto, Ben-Hur Correia destacou que as big techs devem se responsabilizar por informações falsas, Agindo de forma mais eficaz em relação à disseminação de notícias falsas. “Num momento em que as eleições do país se aproximam, em 2026, é necessário que as plataformas sejam responsabilizadas pelas suas publicações. Sabemos que o Tribunal Superior Eleitoral agiu de forma diferenciada nas últimas eleições, mas muita coisa mudou e é preciso que os mais atores envolvidos nessa batalha contra a desinformação. Não podemos deixar que essa massificação da mentira ocorra”, avaliou.  

 

Os dados mostram que há uma necessidade do uso de plataformas mais eficaz para que os profissionais de comunicação possam verificar a veracidade das informações nos principais países da região. “Diante de todos esses dados, como agência de comunicação, a LatAm Intersect assume sua parcela de responsabilidade frente à crise da desinformação, não apenas em seu trabalho com a imprensa, mas também ao longo dos espaços de troca e formação como este. A série ‘Intersecção de Valor’ nasce justamente dessa necessidade: contribuir para o ecossistema informativo, que está além de interesses comerciais”, acrescentou Daré.

 

Os 5 principais aprendizados deixados pelos especialistas:

1. O processo de verificação deve vir antes da ferramenta

A verificação de dados deve começar pelo processo investigativo, aplicando critérios clássicos de apuração, como ouvir fontes, consultar registros e contextualizar informações. O jornalismo declaratório, que reproduz falas sem verificação, contribui para a disseminação de desinformação em política, cultura, esporte e entretenimento. Priorizar a purificação é essencial para restaurar a substituição do jornalismo e oferecer informações confiáveis ao público.

2. Educação informacional e letramento digital no combate à desinformação

A verificação de fatos depende da participação da sociedade. A educação informacional deve ser prioritária, incorporando o letramento digital às escolas e programas de formação, desenvolvendo habilidades críticas para analisar fontes e avaliar conteúdos em redes sociais. Materiais acessíveis, como ebooks, podcasts e vídeos, ajudam cidadãos de todas as idades a se tornarem mais resistentes à desinformação.

3. Inteligência Artificial como desafio e ferramenta de uso diário, mas usada com cuidado

A Inteligência Artificial é ao mesmo tempo aliada e ameaça para o jornalismo. Usada como assistente, otimiza processos, organiza dados e acelera pesquisas. Mas, se mal utilizado, pode gerar manipulação e deepfakes realistas, como em golpes envolvendo figuras públicas como César Tralli e William Bonner. Lüdtke compara a IA a uma motoserra: poderosa se bem usada, perigosa, se usada de forma irresponsável. Por isso, a verificação de fatos deve incluir análise de metadados, rastreamento de origens e consulta a especialistas.

4. Desinformação como estratégia e modelo de negócio impactante em diversos setores  

Hoje, as fake news funcionam como um modelo de negócio, organizado para gerar lucro, influência política e manipulação social. Campanhas coordenadas envolvem desde eleições até apostas e golpes digitais, explorando emoções e desejos de ganho rápido. Mapear quem produz, financia e distribui esses conteúdos é essencial para entender os interesses por trás das narrativas falsas e reduzir seu impacto.

5. Regulação, cooperação e responsabilidade compartilhada: a responsabilidade das bigtechs 

 

O combate à desinformação é uma responsabilidade compartilhada entre jornalistas, governos, sociedade civil e big techs, que devem identificar e remover conteúdos manipulados, especialmente em períodos eleitorais. A cooperação entre redações fortalece a verificação e amplia a capacidade de resposta frente à sofisticação crescente da desinformação digital, considerando que muitas equipes ainda não têm treinamentos específicos. Assim, a união de esforços amplia a capacidade de resposta diante da sofisticação crescente da desinformação digital.

 

Ferramentas recomendadas por especialistas para uso diário em redações e por criadores de conteúdo:

 

  • Canva:  Tradutor de slides de apresentações. Traduz automaticamente para 134 idiomas.

  • Deepware : Para detectar vídeos deep fakes criados com IA.

  • SynthID : Para marcar e identificar conteúdos de áudio e imagem gerados por IA, principalmente em IAs do Google. Em fase beta.

  • Sensity : Para detectar deepfakes e conteúdos de vídeo, áudio e imagem criados com IA.

  • Grammarly IA Detector  – para detectar textos gerados por IA.

  • ChatGPT : Chatbot desenvolvido pela OpenAI.

  • Aiornot : Para detectar conteúdos de áudio e imagem criados por IA.

  • Gêmeos : IA do Google que ajuda a escrever, planejar, aprender e muitas outras coisas mais.

  • NotebookLM:  Assistente de pesquisa de IA personalizada, desenvolvida com o Gemini.

  • Leap.IA : Busca informações sobre a titularidade de um email com base em IA. 

  • Journalist’s Toolbox AI : Compilado de recursos e caixas de ferramentas de IA.

  • SIFT Toolbox : Prompt desenvolvido por Mike Caufield para verificação no Chat GPT.

Sobre a LatAm Intersect PR

LatAm Intersect é uma agência de comunicação integrada especializada em campanhas corporativas e de consumo, com atuação em toda a América Latina. Reconhecida por sua excelência, foi nomeada uma das cinco melhores agências do ano na América Latina pelos SABRE Awards Latin America em 2022 e 2024. Seus fundadores, Claudia Daré e Roger Darashah, figuraram na lista PRovoke 25 America’s Innovators Professionals em 2022 e 2024, respectivamente, sendo Claudia a única brasileira a integrar o ranking.

O nome Intersect reflete o princípio fundamental da agência: em um mundo cada vez mais orientado por big data e automação, a capacidade de se conectar de forma autêntica com as pessoas, por meio de relações, evidências e diálogo, é indispensável para empresas que desejam ser relevantes no mercado.

www.latamintersectpr.com

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *