
Com seus timbres e tons inconfundíveis, ela se tornou um dos grandes nomes da música brasileira e, com suas atitudes, uma referência para uma geração de mulheres. A intimidade e a trajetória de uma das principais vozes da cultura nacional são apresentadas no documentário ‘Miúcha: A Voz da Bossa Nova’, exibido no Curta!.
Viabilizado pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o filme é dirigido por Liliane Mutti, que relata a vida de Miúcha a partir de um rico acervo de imagens composto por imagens familiares e registros de áudio em fita cassete. A leitura de suas cartas e diários é feita pela sobrinha, Silvia Buarque.
O documentário é uma exposição carinhosa da vida de Miúcha. A viagem começa a partir de sua infância num lar boêmio recheado de encontros artísticos e intelectuais. Crescendo com referências que iam de Simone de Beauvoir a Billie Holiday, passando pelo amigo da família Vinicius de Moraes, deu asas a seu jeito inquieto e ousado e partiu para explorar, e encantar, o mundo, com um violão a tiracolo.
Com imagens gravadas por Miúcha, o documentário mostra como ela se encantou pela Bossa Nova, relembrando o impacto daquele novo estilo musical que a deixava por horas a fio escutando os álbuns, e revela os primeiros encontros com João Gilberto.
“Posso dizer que fui uma das pessoas que foram absolutamente seduzidas pela Bossa Nova, por aquele som. Parece que, de repente, o cinema em branco e preto ficou colorido”, narra em seu diário.
Com gravações do casamento de João Gilberto e Miúcha, com direito a dança ao lado de Sérgio Buarque de Hollanda, a obra refaz o conturbado relacionamento dos dois. Cenas de ensaios e da vida cotidiana em Paris, México e Nova York, e ao lado da filha Bebel, ilustram a mudança nos sentimentos da cantora. Da idolatria e da paixão, o casamento se torna uma prisão alimentada por insegurança e distanciamento, com João desdenhando de seu talento musical e sem dar o devido crédito a sua voz e contribuição em álbuns marcantes.
“Não dá para curtir essa posição que João me bota de tomadora de conta, de resolvedora de todos os problemas. E ele consegue virar as coisas de modo que eu seja a culpada de tudo. Estou ficando tão deprimida e cansada como se tivesse 200 anos”, lamenta.
Após o fim do casamento, era preciso retomar a liberdade e o sorriso. Os inéditos bastidores da gravação de canções ícones da música brasileira, como “Pela Luz dos Olhos Teus”, e de trabalhos ao lado do irmão Chico Buarque e Tom Jobim, mostram a força, a independência e o talento de Miúcha. Sempre em movimento e sempre corajosa, ela começa a trilhar sua carreira solo, expande seu leque e sua voz para novas experiências e ritmos, firmando sua voz como símbolo da cultura nacional e sua postura como um símbolo da mulher da nova geração.
“Estou de cabeça viradíssima. Já pensou a society feminista. Aliás, no finzinho dos livros, na hora de apresentar soluções, todo mundo acaba lutando por um tipo qualquer de comunidade, inclusive para acabar com a neurose de família. Pra mim seria o máximo, pois sou, decididamente, um bicho social”, avalia em carta.
“Miúcha: A Voz da Bossa Nova” é uma produção da FILMZ. O filme pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br). A exibição é no dia temático Segundas da Música, 29 de dezembro, às 22h.