
Chico Anysio e filhos
Entre personagens emblemáticos, bordões que cativaram o Brasil e um talento imenso, sempre existiu um Francisco por trás do fenômeno Chico Anysio. Um especialista na arte de criar figuras que mexem com a memória e o imaginário afetivo de gerações. A partir de hoje, 25 de setembro, o público pode revisitar a trajetória de um dos maiores gênios do humor, que gerou um enorme legado, com a estreia da série documental Original Globoplay ‘Chico Anysio: um Homem à Procura de um Personagem’. Com direção e roteiro de Bruno Mazzeo, filho do humorista, e produção da Casé Filmes, a obra acompanha a jornada multifacetada do artista, que brilhou nos palcos, na literatura e nas telas, em programas memoráveis como ‘Chico City’ e ‘Escolinha do Professor Raimundo’, e leva ao público um olhar profundo sobre sua influência na cultura e na arte do país. Os cinco episódios chegam juntos ao catálogo, com o primeiro disponível e aberto para todo o público, incluindo não-assinantes do streaming.

Bruno Mazzeo

Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho
“Toda vez que eu chego em Maranguape (Ceará), sobretudo na casa em que meu pai nasceu, é como se eu vivesse uma espécie de reencontro”, descreve Mazzeo no primeiro episódio. “Nós sempre fomos muito próximos, uma relação de afeto, amor, carinho. E muita conversa, ele adorava conversar, contar histórias. Só que ser filho de pai famoso tem disso, ele dava tantas entrevistas, falando sobre tudo, que talvez eu tenha esquecido de fazer as minhas próprias perguntas”, reflete.

Bruno Mazzeo e Renato Aragão

Boni e Bruno Mazzeo
A série traça um retrato íntimo de Chico, desde a infância no Ceará, a mudança para o Rio de Janeiro e o início na rádio, onde se destacou, até a revolução que promoveu na TV com o ‘Chico Anysio Show’, atração que transformou o humor na televisão brasileira, inaugurou o uso do videotape e apresentou os primeiros de seus mais de 200 personagens. O documentário explora também os desafios enfrentados na carreira, seus seis casamentos e como cada um deles marcou sua trajetória, entre eles o relacionamento com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, que o tornou alvo da imprensa e impactou sua popularidade. Aborda ainda como aconteceu o afastamento do ícone da comédia das telas da TV, seu legado artístico e o fim da vida.
“Foi muito especial, talvez o mais especial dos meus trabalhos. Por ser minha estreia nesse universo dos documentários, eu que sou tão acostumado a partir do texto, tive que aprender uma nova maneira de contar uma história. Vivi momentos de grandes emoções. Sou muito feliz por ter contado essa história”, descreve Bruno. Repletos de imagens de uma rica pesquisa com conteúdos de acervo que ilustram a grandiosidade de Chico, os episódios desvendam o legado do criador através de depoimentos inéditos e emocionantes de amigos, parceiros e familiares. “Não entrevistei ninguém que não conhecesse profundamente meu pai, que não tenha convivido com ele, seja profissional, seja pessoalmente”, revela o diretor e roteirista.

Chico Anysio

Chico Anysio
Entre os nomes convidados, Fernanda Montenegro, uma das companheiras do artista no início da carreira. Em seu depoimento, ela relembra a época em que dividiam os microfones e a cena na rádio. “Era uma comunidade de jovens à procura de um aperfeiçoamento para chegar em algum lugar, que não era o tradicional. Nós tínhamos uma fome de cultura. A rádio foi a minha universidade. Não nos largávamos”, conta a atriz. Emocionada, declara: “Falar de colegas da dimensão dele toca o coração”.

Marcos Palmeira e Bruno Mazzeo

Bruno Mazzeo e Daniel Filho

Chico Anysio
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, também ressalta a genialidade do comediante: “O Chico Anysio introduziu a humanidade no humorismo. Os personagens dele tinham alma, vida. Não era apenas um jogo de palavras. Ele concebia do ponto de vista comportamental”. Segundo Boni, a dimensão artística de Chico transcendeu a própria pessoa: “A disposição dele para a vida era tão grande que ele certamente não viveu plenamente. Fez tudo aquilo que queria, foi um sucesso imenso, mas o Chico Anysio era maior que o próprio Chico Anysio”. Heloisa Périssé também é entrevistada e explica como o artista se conectava com o público: “Seus personagens tocavam o brasileiro porque ele pegava a essência do que estava acontecendo no momento. O Chico era muito antenado, um cara que já ficou no ar de domingo a domingo. Sempre foi muito preocupado em saber o que o povo falava para trazer isso para a arte dele. Realmente o artista vai aonde o povo está”.
Quem também marca presença na série é Marcos Palmeira, sobrinho de Chico Anysio, e exalta a capacidade dele de se conectar com a essência do país. “Acho que ele representava muito esse Brasil profundo. Conseguia, com a leveza do humor, ser um observador dos seres humanos. Acredito que essa comunicação era muito direta”, recorda. Já Lucio Mauro Filho, filho de Lucio Mauro e amigo de longa data de Bruno Mazzeo, lembra com carinho de Chico e enaltece seu vasto acervo de personagens. “São brasileiros vindos de todos os lugares. Inclusive, ele e meu pai também são imigrantes. Imagina os personagens que Chico Anysio foi conhecendo até chegar ao Rio de Janeiro e a São Paulo? Acho que, em algum momento, ele pensou: ‘Eu estou com esse material todo pronto'”. “Talvez esse documentário não seja apenas sobre a trajetória do mais importante humorista brasileiro. Mas, também, um resgate”, conclui Mazzeo.
‘Chico Anysio: um Homem à Procura de um Personagem’ também conta com a participação de outras personalidades, como Daniel Filho, Tom Cavalcante, Renato Aragão, Carlos Alberto Nobrega, Dedé Santana, Galvão Bueno e os saudosos Roberto Dinamite e Cacá Diegues.
Confira a entrevista com Bruno Mazzeo:
Como é para você, como filho e profissional, dirigir um documentário tão pessoal sobre a vida e a obra do seu pai?
Foi muito especial, talvez o mais especial dos meus trabalhos. Por ser minha estreia nesse universo dos documentários, eu que sou tão acostumado a partir do texto, tive que aprender uma nova maneira de contar uma história. Vivi momentos de grandes emoções. Sou muito feliz por ter contado essa história.
Quantas pessoas foram entrevistadas para a série? Poderia citar alguns nomes que foram fundamentais para a construção da narrativa e por quê?
Não entrevistei ninguém que não conhecesse profundamente meu pai, que não tenha convivido com ele, seja profissional, seja pessoalmente. Tem gente que trabalhou com ele durante anos, como Boni e Daniel Filho, colegas como Fernanda Montenegro, Tom Cavalcante, Cacá Diegues e Renato Aragão, além de todos os meus irmãos, meu tio, meu primo Marquinhos Palmeira e ex-esposas, incluindo Zélia Cardoso de Mello.
Quais recursos você utiliza para selecionar alguns dos personagens mais icônicos do Chico na série documental, em meio a um portfólio tão vasto e de tantos anos de história?
Optei por contar a história e deixar os personagens aparecem organicamente, sem a preocupação de mostrar todos, afinal a série não é sobre isso. Mas eles estão bem representados, muitos são citados nominalmente, outros ilustram uma situação. O importante foi mostrar a qualidade e variedade da criação do Chico, o mais ator de composição do mundo.
Como a série explora a importância desses personagens no imaginário popular brasileiro?
Ao lembrar seus personagens, temos a real noção do quanto eles ainda estão no imaginário do brasileiro, muitos bordões são repetidos até hoje nas ruas. Alguns entrevistados contam de onde vieram inspirações para a criação de alguns personagens. Isso, além de ser curioso, deixa bem claro que a matéria-prima do Chico vinha das ruas.
Como você equilibrou a narrativa da vida pessoal com a carreira, buscando mostrar o lado humano do seu pai?
A ideia sempre foi aprofundar no Francisco, em paralelo com a trajetória incrível do Chico. O Francisco era um ser humano que tinha falhas, inseguranças, fraquezas e até depressão. Acho que conseguimos mostrar um lindo e verdadeiro retrato do meu pai. Com certeza, ele deve estar feliz com o resultado.
Gostaria de destacar sua memória mais marcante de Chico Anysio como pai e como artista?
São muitas as memórias, impossível responder em uma pergunta. Mas fazer este documentário me fez rever algumas delas, seja através de imagens caseiras que utilizamos, seja através de depoimentos de irmãos e parentes.
Qual é a principal mensagem que você espera que o público absorva ao assistir à série documental?
A série não é uma “homenagem”, um “especial”, mas um mergulho não só na obra, mas na alma de Chico Anysio. É um documentário profundo, como não podia deixar de ser, uma vez que é um filho juntando o quebra-cabeças da vida do pai.