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Setembro Amarelo – Cornell e Chester: O elo entre dor, identidade e suicídio

Em 2017, o mundo da música perdeu dois de seus maiores vocalistas em circunstâncias trágicas. Chris Cornell, do Soundgarden, morreu em maio. Pouco mais de dois meses depois, em julho, Chester Bennington, do Linkin Park, tirou a própria vida na mesma data em que Cornell completaria aniversário. A coincidência temporal e a forma semelhante do suicídio levantaram debates sobre vínculos emocionais, saúde mental e a dimensão simbólica desses atos.

Segundo o Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-PhD em Neurociências e especialista em Neurolinguística, os casos revelam mecanismos diferentes que se encontraram em um mesmo desfecho.

“Cornell carregava uma depressão crônica desde a infância, marcada pela separação dos pais e ausência de apoio materno. Essas experiências precoces remodelam circuitos cerebrais como o hipocampo e a amígdala, aumentando a vulnerabilidade a transtornos de humor, mesmo quando o indivíduo alcança reconhecimento social ou sucesso artístico”, explica o pesquisador.

No caso de Chester, a dinâmica era distinta. “Bennington vivia um conflito identitário. Suas inúmeras tatuagens podem ser interpretadas como tentativas de reconfigurar a própria narrativa de quem era, quase como se cada marca fosse uma forma de negar ou ressignificar a dor interna. Cornell, por sua vez, não tinha essa prática, o que sugere uma relação diferente com a própria identidade”, analisa o Dr. Fabiano.

Do ponto de vista neurobiológico, ambos partilhavam desequilíbrios em sistemas neurotransmissores fundamentais, como serotonina e dopamina, ligados ao humor, motivação e circuito de recompensa . Mas a forma como cada um lidava com essa vulnerabilidade foi diversa. Cornell representava a dor prolongada e internalizada, enquanto Chester buscava no corpo e na relação com o amigo uma saída para o próprio conflito.

A morte de Chester no aniversário de Cornell não pode ser vista apenas como coincidência. Para o especialista, “esse ato sugere um efeito de contágio emocional, já documentado na ciência, em que a identificação afetiva com alguém próximo reduz a barreira de inibição pré-frontal, facilitando a tomada de decisão suicida. É um gesto simbólico de ligação ao amigo, mas também de rendição ao mesmo destino”.

As histórias de Cornell e Chester revelam, de acordo com o Dr. Fabiano, a complexidade do suicídio: não um ato isolado, mas resultado da interação entre fatores biográficos, identitários e neurobiológicos. “O Setembro Amarelo deve nos lembrar disso: por trás de cada caso há uma história de dor, um cérebro em desequilíbrio e vínculos que, quando não sustentados, podem levar ao colapso”.

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