Uma cidade ao Sul do Equador e banhada pelo Oceano Atlântico. O calor é implacável. O aluguel de um imóvel ali não é nada barato. No trânsito, a imprudência exige atenção. Ambulantes vendem suas mercadorias na mesma rua onde lojas exibem roupas suntuosas vindas do exterior. Em fevereiro, ao longo de três dias, as ruas são tomadas por foliões que pregam peças nos mais incautos. E qual cidade é essa afinal? Se pensou no Rio de Janeiro, acertou, mas vale a ressalva: não se trata da cidade como a conhecemos hoje, mas do Rio do século XIX. Essa cidade tem suas características e hábitos descortinados em Rio de Janeiro – A urbe oitocentista, no qual Pedro Henrique Miranda Fonseca volta a debruçar-se sobre a metrópole fluminense neste que é seu terceiro livro, o primeiro pela Cajuína. A edição chega às livrarias em agosto apresentada pelo escritor e historiador Djalma Augusto dos Santos Mello, que chama atenção para o fato de o autor trabalhar “com propriedade e riqueza cada aforismo de pessoas que se apaixonaram pelo Rio ao vê-lo pela primeira vez”.
A Baía de Guanabara é a porta de entrada de visitantes como o pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o naturalista Charles Darwin (1809-1882) e o comerciante John Luccock. Suas impressões sobre a cidade são algumas das fontes primárias utilizadas no livro por Miranda Fonseca ,leitor apaixonado de diários de viagens. Se a beleza daquele espelho d’água e da vegetação no seu entorno encantavam os viajantes, o mesmo não se deu com o urbanismo da capital, cuja decepção é unânime na grande maioria dos relatos consultados.
E, a partir deles, o autor traça um vasto painel da cidade, com suas belezas, mazelas e, sobretudo, sua autenticidade. A edição traz ainda um álbum iconográfico composto por 16 imagens, entre pinturas e fotografias, de nomes como Johann Moritz Rugendas (1802-1858), Marc Ferrez (1843-1922) e o supracitado Debret, entre outros.
As vestimentas,por exemplo, passam a ser vistas com atenção a partir da chegada da Família Real, em 1808. Paris deu as cartas por muito tempo e, voilá, a calça comprida estabelece-se a partir da Independência. Já o terno de corte inglês entra no parlamento somente em 1845, sendo padrão até hoje. Essas são apenas algumas curiosidades garimpadas por Fonseca na obra, na qual as vestimentas oitocentistas são tema do terceiro capítulo da edição.
Uma jovem alemã dirige-se ao dentista quando tem suas vestes molhadas por jovens munidos de limões-de-cheiro. Tais objetos tomavam as ruas da idade no entrudo, festa popular advinda de Portugal e que daria origem ao nosso carnaval. O episódio é descrito pelo autor no penúltimo capítulo da edição, dedicada às (poucas) opções de divertimento numa cidade mais afeita a celebrar os santos católicos.
E, por falar em liturgias, o capítulo final é dedicado à Igreja de Nossa Senhora da Candelária, que, construída entre 1775 e 1898, resistiu às transformações urbanísticas e sanitárias implementadas na cidade de quando em quando. “Felizmente, a igreja resistiu à sanha destruidora de coisas belas que a insensatez de gestores públicos teima em impingir à cidade”, observa o autor.
“Rio de Janeiro – A urbe oitocentista” é, como observa Djalma Augusto dos Santos Melo, “um primor, erudito, e uma apologia refinada sobre a cidade que sempre foi vista como maravilhosa”. E que, passados dois séculos, ainda assim se mantém.
Foto: Eduardo Tropia
Sobre o autor:
Pedro Henrique Miranda Fonseca estreou na literatura em 2023, com “Recortes: colaborações para a imprensa” (Ibis Libris), seleta dos artigos escritos por ele e publicados em jornais. O Rio de Janeiro e sua historiografia fazem-se presentes na obra seguinte, “Rio de Janeiro século XIX: algumas achegas” (2024), também editado pela Ibis Libris. Nascido em Cururupu (MA), e formado em Medicina pela UFMA, é membro-fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina. É também membro-correspondente da Academia Maranhense de Medicina e integrante da Academia Cururupuense de Letras,sendo também sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
Título: Rio de Janeiro – A urbe oitocentista
Autor: Pedro Henrique Miranda Fonseca
Editora: Cajuína
Lançamento: agosto de 2025
Formato: 11 X 18cm
Número de páginas: 136
Preço: R$ 52,00