Cultura

TRIBUTO Francisco Cuoco: “A arte, quando toca o coração, os sentimentos, é insubstituível”

Francisco Cuoco é homenageado no novo episódio de 'Tributo'

Francisco Cuoco é homenageado no novo episódio de ‘Tributo’

Fotos: Daniela Toviansky

O desfecho de Carlão, protagonista da novela ‘Pecado Capital’, paralisou o país em 1975. A ousadia da autora Janete Clair, o olhar do diretor Daniel Filho e a verdade do ator Francisco Cuoco convergiram para a comoção nacional, que transformou a cena numa das sequências mais memoráveis da teledramaturgia brasileira. “Um certo luto cobriu o Brasil porque era um personagem que tinha uma simplicidade, uma realidade próxima de muita gente”, lembra Cuoco. Essa e outras histórias emocionantes poderão ser conferidas no especial ‘Tributo’, que homenageia na próxima sexta-feira, 06 de junho, após ‘Globo Repórter’, um dos atores mais populares da nossa história. Projeto original Globoplay e TV Globo, a série documental chega à segunda temporada e busca reverenciar, aplaudir e manter vivo o legado de talentos que continuam brilhando nas telas e nos palcos.

Paulistano que guarda boas lembranças do bairro do Brás, Francisco Cuoco nasceu em 1933. Sua vocação artística se manifestou ainda na infância, época em que ele gostava de reproduzir os espetáculos circenses pelos quais se encantava. A brincadeira virou profissão: fez parte do elenco da companhia Teatro dos Sete, e passou pelas TVs Tupi e Record, antes de integrar a TV Globo. “A arte, quando toca o coração, os sentimentos, é insubstituível”, afirma Cuoco, com sua voz inconfundível. “Ele foi o maior astro da televisão brasileira e foi fundamental para estruturar o gosto do brasileiro pela telenovela”, resume o escritor especialista em dramaturgia, Mauro Alencar, um dos entrevistados do especial.
O ator fez sua estreia na TV Globo em ‘Assim na Terra, Como no Céu’ (1970), trama de Dias Gomes; e foi com Janete Clair que Cuoco ganhou diversos protagonistas, que até hoje povoam o imaginário do público. Ele estrelou, por exemplo, as versões originais de ‘Selva de Pedra’, como Cristiano (1972); ‘Pecado Capital’ (1975), na pele de Carlão; e ‘O Astro’ (1977), como Herculano. “Ele estava na hora certa, no lugar certo e era o ator certo pros personagens que fez”, defende a amiga e parceira de cena, Elizabeth Savalla.

Outros trabalhos da carreira de Cuoco são ‘O Salvador da Pátria’ (1989), ‘Cobras & Lagartos’ (2006), ‘A Vida da Gente’ (2011) e ‘Amor à Vida’ (2013). Seu mais recente trabalho em novelas foi em ‘Segundo Sol’ (2018), além de uma participação em ‘Salve-se Quem Puder’ (2022). No cinema, o ator participou de filmes como ‘Gêmeas’ (1999), ‘A Partilha’ (2001), ‘Cafundó’ (2005) e, mais recentemente, ‘Real Beleza’ (2015). No teatro, Francisco Cuoco fez parte da primeira montagem de ‘O Beijo no Asfalto’ (1961), texto de Nelson Rodrigues, além de dezenas de peças que lhe deram prestígio antes mesmo de estrear na televisão. O ator integrou ainda o elenco dos espetáculos ‘Os Três Homens Baixos’ (2005), ‘O Último Bolero’ (2006) e ‘Paixão e Morte de um Homem’ (2017), entre outros.
Companheira de cena em obras como ‘Pecado Capital’ (1975) e ‘Duas Vidas’ (1976), Betty Faria relembra, no episódio, um dos diferenciais de Chico – como Francisco é carinhosamente chamado pelos amigos mais próximos e admiradores – entre os atores de sua época. “Eu acho que a contribuição foram os valores morais dele, de saber que sucesso é igual a uma onda – que cresce e quebra na praia. Tem fases que está lá em cima e tem fases que está lá embaixo. Ele já veio com essa consciência”, reflete a atriz. Ângelo Paes Leme, com quem Cuoco estrelou a peça ‘Uma Vida no Teatro’ (2013), também compartilha sua admiração pela habilidade cênica do veterano. “Enquanto ele estava buscando aquela densidade dramática do personagem e das situações, ao mesmo tempo tinha um humor extraordinário. Eu fiquei impressionado com a capacidade dele de experimentar. E ele tem um lado debochado, uma capacidade de rir de si mesmo que é invejável. Isso traz uma leveza. Fica gostoso de compartilhar e trabalhar junto”, conta Ângelo.
Com imagens de arquivo e depoimentos de amigos e familiares, ‘Tributo’ costura uma história que foi acompanhada por um público encantado, ao longo de décadas, com o trabalho de Francisco Cuoco, fazendo dele um “astro” nacional. Aos 91 anos, dono de uma trajetória incomparável, Cuoco reflete sobre seu ofício: “O ator nunca está completo. Há sempre algo que lhe falta. Ser ator é viver num estado de desamparo permanente, que só cessa no encontro com o outro”, afirma.
‘Tributo’ é uma série Original Globoplay e TV Globo com redação de Nathalia Oliveira, Carlyle Junior e Lalo Homrich; direção artística de Antonia Prado; direção de Matheus Malafaia e Marcos Nepomuceno, produção de Elaine Sá, produção executiva de Fernanda Neves e direção de gênero de Claudio Marques.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *