O referente fotojornalista faleceu em Paris, decorrente de problemas por uma malária adquirida nos anos 1990
No dia 23 de maio, faleceu, em Paris, um dos maiores fotógrafos do mundo, Sebastião Salgado, por problemas em decorrência de uma malária adquirida nos anos 1990, conforme confirmado pelo Instituto Terra, fundado por ele e sua esposa, Lélia Wanick.
O Instituto Terra publicou uma nota em suas redes sociais o anúncio da morte e uma homenagem para o fotógrafo.
“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade”.
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior foi um fotógrafo documental e fotojornalista brasileiro. Salgado já viajou por mais de 120 países para seus projetos fotográficos. A maioria deles apareceu em inúmeras publicações de imprensa e livros. Exposições itinerantes de seu trabalho foram apresentadas em todo o mundo.
Sebastião Salgado, um nome que ecoa na fotografia documental global, transcende a mera captura de imagens; ele é um cronista visual da condição humana e da natureza. Sua jornada, que o levou das fazendas de Minas Gerais aos confins do planeta, é um testemunho de compromisso, paixão e uma busca incansável por justiça e beleza.
Nascido em 1944, em Aimorés, Minas Gerais, Salgado não começou sua vida profissional atrás de uma câmera. Sua formação inicial foi em Economia, obtendo mestrado no Brasil e doutorado na França. Trabalhou na Organização Internacional do Café e viajou extensivamente pela África.
Foi nessas viagens que, gradualmente, a fotografia começou a se impor em sua vida. Aos 29 anos, em um ponto de virada decisivo, ele abandonou a promissora carreira de economista para abraçar a fotografia como profissão.
Sua paixão inicial pela câmera se transformou rapidamente em um profundo engajamento com questões sociais e ambientais. Nos anos 1980, Salgado mergulhou em projetos que o consagrariam. “Trabalhadores: Uma Arqueologia da Era Industrial” (1993) é um dos marcos de sua carreira, documentando o fim de uma era industrial e a dignidade dos trabalhadores em diversos cantos do mundo. Para este projeto, ele passou anos em siderúrgicas, minas e portos, imortalizando rostos e gestos que expressavam a essência do labor humano.
Em seguida, “Êxodos” (2000) o levou a registrar os grandes fluxos migratórios do final do século XX, explorando a desintegração social e as complexas realidades de refugiados e migrantes. Suas imagens, muitas vezes em preto e branco com uma riqueza tonal inigualável, carregam uma carga emocional profunda, compelindo o observador a refletir sobre as causas e consequências desses deslocamentos massivos. Salgado não apenas documentava; ele vivenciava as realidades que fotografava, o que conferia autenticidade e profundidade às suas obras.
Após anos testemunhando tragédias humanas e ambientais, Salgado sentiu a necessidade de voltar sua lente para a natureza e a vida selvagem. “Gênesis” (2013) é o ápice dessa transição, um projeto de oito anos que o levou a regiões intocadas do planeta, buscando os vestígios de um mundo primordial. Das paisagens geladas da Antártica às florestas tropicais da Amazônia, das tribos isoladas aos animais em seu habitat natural, “Gênesis” é uma ode à beleza e à fragilidade da Terra, um chamado à preservação e um lembrete do que ainda podemos salvar.
Paralelamente à sua produção fotográfica, Salgado e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, desenvolveram um trabalho notável de reflorestamento em sua terra natal, a Fazenda Bulcão, em Minas Gerais. O projeto, que resultou na criação do Instituto Terra, transformou uma paisagem devastada em uma floresta exuberante, demonstrando que a restauração ambiental é possível. Esse engajamento com a natureza e o desejo de inspirar a mudança se tornaram tão intrínsecos à sua identidade quanto sua fotografia.
Sebastião Salgado é mais que um fotógrafo; é um ativista com a câmera, um contador de histórias que utiliza a luz e a sombra para revelar as complexidades do nosso tempo. Sua obra é um convite à reflexão, à empatia e à ação, perpetuando um legado de consciência ambiental e social que ressoa em cada clique. Sua carreira é um exemplo inspirador de como a arte pode ser uma poderosa ferramenta para a transformação e a celebração da vida.